quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Trabalho e Valores na Cultura Ribeirinha da Ilha do Combu

Um colega me pediu que escrevesse algo sobre os ribeirinhos e a cultura agregada a estas comunidades, lendo um artigo do jornal “Beira do Rio” me chamou atenção este título “Moradores de Belém, mas quase invisíveis”, referindo-se a pesquisas realizadas na ilha do Combu, mudando um pouco o enfoque que meu colega pretendia dar a esse texto decidi dedicar-me as condições de trabalho ligadas a construção de identidade destes moradores desconhecidos de Belém.



Segundo a pedagoga Jacqueline Serra Freire ainda existem poucos estudos referentes ao dia-a-dia dos ribeirinhos da ilha do Combu, principalmente no que diz respeito à construção de identidade sob a análise das dimensões sócio-cultural, educacional, econômica e afetiva nas quais essa comunidade esta inserida. Os ribeirinhos apesar de possuírem pouco destaque nas estatísticas oficiais representam segundo a mesma, 65,64% do cenário populacional de Belém, sendo das 39 ilhas somente duas reconhecidas como urbanas (Mosqueiro e Caratateua*).



Algumas reportagens mencionam o Combu como ilha referência na extração de açaí, e apesar disso na região da ilha conhecida como região do igarapé (região interna da ilha) 5% das famílias por mês arrecadam menos de um salário mínimo, este índice sobe para 50% à medida que vamos nos aproximando das margens do rio. Além disso, as condições cotidianas tornam o trabalho do ribeirinho pouco diversificado, as meninas, por exemplo, dedicam-se ao serviço domestico raras vezes envolvendo-se na extração de açaí ou qualquer outro produto cultivado diferente dos meninos que na região dos igarapés dedicam-se a extração desses bens de consumo e, no caso dos meninos nas proximidades do rio resta quase que exclusivamente trabalhar na coleta de palmito, cacau ou açaí como contratados daqueles que possuem terrenos produtivos.



Estes moradores se inserem também no setor de serviços, podendo ser público ou privado (desde agentes comunitários a construtores e “alugadores” de embarcações) além de, por conta da proximidade de Belém, buscar o complemento de sua renda através de empregos como domésticas ou ajudantes de pedreiros.



Além de emprego, na cidade de Belém estes moradores buscam melhor qualificação em termos de escolaridade, visando sempre à melhora na condição de vida, essa observação faz-se interessante na medida em que, como retrata na reportagem Jaqueline Serra Freire, o enraizamento da cultura ribeirinha é uma das marcas, mas identitárias principalmente em meio aos jovens. Jaqueline exemplifica mostrando a expectativa deste jovem em permanecer na ilha como morador, ou da utilização deste conhecimento adquirido em prol da comunidade ao qual se identifica e mostra que estes vínculos afetivos tornam até os desejos de consumo destes indivíduos de uso coletivo.


Em essência, portanto, podemos perceber que os valores dos moradores das ilhas ao entorno de Belém referente à educação, trabalho e família além das suas condições de trabalho diferem dos valores e práticas cultivados pela maioria da população efetiva da cidade de Belém, muito embora aja influência direta.

Esse Texto é uma contribuição de Brissa Oliveira Acadêmica do Curso de Ciências Sociais - Unama.
Membro do Oráculo Paraense.


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