terça-feira, 20 de outubro de 2009

A Historia do Bonde em Belém de 1868 a 1947

A primeira empresa de bondes na capital paraense foi organizada em 1868 pelo cônsul dos Estados Unidos em Belém, o industrial James Bond. Por isso, historiadores locais afirmam que o nome dele foi a origem da palavra "bond", aportuguesada como "bonde", para designar tais veículos.



A linha de bondes a vapor de Belém, uma das primeiras no Brasil, ligando o Largo da Sé ao Largo do Nazaré, foi inaugurada em 1/9/1869, com bitola de 1.435 mm, usando três locomotivas e dois carros de passageiros, segundo relata o pesquisador estadunidense Allen Morrison.


 Mapa Ferroviario de Belem

Bond vendeu seu sistema em 1870 a Manoel Bueno, que formou a Companhia Urbana de Estrada de Ferro Paraense, e no mesmo ano a Companhia de Bonds Paraense inaugurou sua primeira linha de bondes com tração animal, em bitola de 750 mm. Em 1883 já existiam 30 km de linhas, entre bondes a vapor ou com tração animal.



A Companhia Urbana assumiu todo o sistema em 1894 e contratou a Siemens & Halske, de Berlim (Alemanha), para instalar a iluminação pública e um sistema de bondes elétricos. Mas os alemães só fizeram a primeira parte.



A Pará Electric Railways and Lighting Company, registrada em Londres em 25/7/1905, comprou a Companhia Urbana e encomendou à também inglesa J. G. White & Co., de Londres, a instalação do sistema de bondes elétricos. Seus trabalhos começaram em 15/8/1906 e exatamente um ano depois foi inaugurada a operação na então Avenida São Jerônimo (hoje Avenida José Malcher). O uso de bondes com tração animal terminou em 21/7/1908, sendo os veículos vendidos para Natal/RN.



O sistema de bondes elétricos de Belém permaneceu britânico em toda a sua existência, inclusive observando regulamentos rígidos, como o de que um veículo de primeira classe não poderia parar para um passageiro vestido inapropriadamente ou de forma incompleta. Um exemplo basico da divisão social, em classes economicas.



Mas, ao contrário dos veículos de Manaus, os bondes elétricos em Belém trafegaram sempre pelo lado direito, nas vias de mão dupla.



Em 1940, vinte bondes fechados foram adquiridos em segunda-mão de Cardiff (em Wales, na Grã-Bretanha). Eles eram os únicos que um visitante encontraria rodando em Belém em 1946. O sistema de bondes dessa cidade paraense foi o primeiro grande sistema brasileiro a fechar, o que ocorreu por razões financeiras, em 27/4/1947.

O Bonde nos Dias de Hoje





Uma chegada muito esperada, o Bonde chegando no porto.




O Projeto do Bonde de Belém está totalmente concluído, ou em partes, o atual prefeito retirou das ruas a fiação elétrica que daria vida ao Bonde. Uma rixa entre o antigo e o atual prefeito encalhou um belo e pronto projeto, até hoje o bandinho raramente sai da sua garagem.




O Bonde foi restaurado em Santos e trazido a Belém. Circularia no entorno do centro histórico de Belém nos feriados e fins de semana.




Contudo, atualmente o Bonde faz periodicas voltas no centro historico de Belém, infelizmente esses passeios são muito raros. Abaixo a estação do bonde.




Esse Texto é uma contribuição de Antônio Maia Acadêmico do Curso de Ciências Sociais - Unama.
Membro do Oráculo Paraense.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Trabalho e Valores na Cultura Ribeirinha da Ilha do Combu

Um colega me pediu que escrevesse algo sobre os ribeirinhos e a cultura agregada a estas comunidades, lendo um artigo do jornal “Beira do Rio” me chamou atenção este título “Moradores de Belém, mas quase invisíveis”, referindo-se a pesquisas realizadas na ilha do Combu, mudando um pouco o enfoque que meu colega pretendia dar a esse texto decidi dedicar-me as condições de trabalho ligadas a construção de identidade destes moradores desconhecidos de Belém.



Segundo a pedagoga Jacqueline Serra Freire ainda existem poucos estudos referentes ao dia-a-dia dos ribeirinhos da ilha do Combu, principalmente no que diz respeito à construção de identidade sob a análise das dimensões sócio-cultural, educacional, econômica e afetiva nas quais essa comunidade esta inserida. Os ribeirinhos apesar de possuírem pouco destaque nas estatísticas oficiais representam segundo a mesma, 65,64% do cenário populacional de Belém, sendo das 39 ilhas somente duas reconhecidas como urbanas (Mosqueiro e Caratateua*).



Algumas reportagens mencionam o Combu como ilha referência na extração de açaí, e apesar disso na região da ilha conhecida como região do igarapé (região interna da ilha) 5% das famílias por mês arrecadam menos de um salário mínimo, este índice sobe para 50% à medida que vamos nos aproximando das margens do rio. Além disso, as condições cotidianas tornam o trabalho do ribeirinho pouco diversificado, as meninas, por exemplo, dedicam-se ao serviço domestico raras vezes envolvendo-se na extração de açaí ou qualquer outro produto cultivado diferente dos meninos que na região dos igarapés dedicam-se a extração desses bens de consumo e, no caso dos meninos nas proximidades do rio resta quase que exclusivamente trabalhar na coleta de palmito, cacau ou açaí como contratados daqueles que possuem terrenos produtivos.



Estes moradores se inserem também no setor de serviços, podendo ser público ou privado (desde agentes comunitários a construtores e “alugadores” de embarcações) além de, por conta da proximidade de Belém, buscar o complemento de sua renda através de empregos como domésticas ou ajudantes de pedreiros.



Além de emprego, na cidade de Belém estes moradores buscam melhor qualificação em termos de escolaridade, visando sempre à melhora na condição de vida, essa observação faz-se interessante na medida em que, como retrata na reportagem Jaqueline Serra Freire, o enraizamento da cultura ribeirinha é uma das marcas, mas identitárias principalmente em meio aos jovens. Jaqueline exemplifica mostrando a expectativa deste jovem em permanecer na ilha como morador, ou da utilização deste conhecimento adquirido em prol da comunidade ao qual se identifica e mostra que estes vínculos afetivos tornam até os desejos de consumo destes indivíduos de uso coletivo.


Em essência, portanto, podemos perceber que os valores dos moradores das ilhas ao entorno de Belém referente à educação, trabalho e família além das suas condições de trabalho diferem dos valores e práticas cultivados pela maioria da população efetiva da cidade de Belém, muito embora aja influência direta.

Esse Texto é uma contribuição de Brissa Oliveira Acadêmica do Curso de Ciências Sociais - Unama.
Membro do Oráculo Paraense.